quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

A Mensageira. Daniel Silva. «Palestino de nascimento, jordano de passaporte e europeu de formação e estudos, o professor Massoudi surgia ao mundo como um homem moderado»

Cortesia de wikipedia e jdact

«Gabriel Allon, restaurador de arte e espião, está prestes a enfrentar o maior desafio da sua vida. Um alegado simpatizante da Al-Qaeda é morto em Londres, e no seu computador são encontradas fotos que levam o serviço secreto israelense a desconfiar de que a organização terrorista prepara um dos mais arrojados atentados no coração do Vaticano. Allon avisa o seu velho amigo, monsenhor Luigi Donati, secretário pessoal do papa, e parte para Roma a fim de ajudar na segurança. O que nem ele nem Donati sabem é que o inimigo já se infiltrou no Vaticano. Nas semanas seguintes, Allon travará mortífero duelo de astúcia contra um dos homens mais perigosos do mundo, que o levará de uma galeria londrina a uma ilha paradisíaca no Caribe, a um isolado vale na Suíça e, por fim, de volta ao Vaticano. Allon monta uma armadilha e espera não ser ele a presa. Com intriga intensa e imprevisível, A Mensageira consolida a reputação de Daniel Silva.

Londres
Foi Ali Massoudi quem, involuntariamente, arrancou Gabriel Allon do seu apartamento breve e inquieto: Massoudi, o grande intelectual e livre-pensador eurófilo que, num momento de pânico, se esqueceu de que os ingleses dirigem do lado esquerdo da estrada. O cenário de sua morte foi um fim de tarde chuvoso de Outubro, em Bloomsbury. A data, a sessão final do primeiro Fórum Político anual para a Paz e Segurança na Palestina, Iraque e Países Vizinhos. A conferência tivera início nessa manhã bem cedo, por entre votos de esperança e grande fanfarra. Ao fim do dia, contudo, assumira a qualidade de uma peça medíocre em digressão. Até mesmo os manifestantes que ali tinham comparecido, na esperança de partilhar um pouco da luz da ribalta, pareciam ter consciência de que representavam um guião já muito batido. O presidente americano foi queimado em efígie às dez. O primeiro-ministro israelense foi lançado às chamas purificadoras às onze. Por volta da hora de almoço, sob um dilúvio que por momentos transformou Russell Square num lago, tivera lugar uma qualquer tolice relacionada com os direitos das mulheres na Arábia Saudita. Às oito e meia, quando o painel final foi dado por encerrado, as duas dúzias de estoicos que tinham permanecido até o fim arrastaram-se para as saídas. Os organizadores do acontecimento detectaram pouco apetite para uma repetição do encontro, no Outono seguinte.
Um aderecista adiantou-se e removeu do púlpito um cartaz que dizia: Gaza foi libertada e agora? O primeiro congressista a levantar-se foi Sayyid, da London School of Economics, defensor dos homens-bomba suicidas e apologista da Al-Qaeda. Em seguida, o austero camareiro-mor de Cambridge, que falava da Palestina e dos judeus como se estes ainda fossem uma pedra no sapato dos elementos sisudos do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Ao longo de toda a discussão, o idoso camareiro servira de Muro de Separação entre o inflamável Sayyid e uma pobre alma da embaixada israelita, chamada Rachel, que suscitara apupos e vaias de desaprovação sempre que abrira a boca. O camareiro procurava agora servir de soldado da paz, com Sayyid a perseguir Rachel até a porta, lançando-lhe invectivas em que lhe dizia que os dias de colonizadora chegavam ao fim.
Ali Massoudi, professor de Administração Global e de Teoria Social da Universidade de Bremen, foi o último a levantar-se. Tal não seria de surpreender, poderiam ter dito os colegas invejosos, pois no mundo incestuoso dos estudos sobre o Médio Oriente, Massoudi tinha a reputação de ser alguém que nunca abandonava de bom grado um palco. Palestino de nascimento, jordano de passaporte e europeu de formação e estudos, o professor Massoudi surgia ao mundo como um homem moderado. O futuro brilhante da Arábia, assim lhe chamavam. O rosto do progresso. Era conhecido por desconfiar da religião em geral e do islamismo militante em particular. Aproveitava todas as oportunidades, quer fosse em editoriais de jornais, nas salas de aula ou na televisão, para se lamentar da disfunção vivida pelo mundo árabe. Do seu fracasso em educar o povo. Da tendência para culpar os Americanos e os Sionistas pelas maleitas de que padecia». In Daniel Silva, A Mensageira, 2006, Bertrand Editora, 2007, ISBN 978-972-251-544-3.

Cortesia de BEditora/JDACT