segunda-feira, 15 de maio de 2017

O Legado dos Templários. Steve Berry. «O norueguês passava muitas horas na sua livraria, a literatura inglesa era a sua paixão»

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«(…) Um deles travou com violência no lado sul da Torre Redonda. Outro apareceu mais ao fundo da Köbmagergade, bloqueando qualquer tentativa de fuga para norte. O ladrão estava agora confinado à praça onde se erguia a torre. Parou para avaliar a situação e depois correu para a direita e desapareceu no interior do edifício. O que estaria o idiota a fazer? Não havia saída para além da porta do rés-do-chão. Mas talvez o homem da faca não soubesse disso. Malone correu para a entrada. Conhecia o homem da bilheteira. O norueguês passava muitas horas na sua livraria, a literatura inglesa era a sua paixão. Arne, para onde foi aquele homem?, perguntou em dinamarquês, a arquejar.
Passou por aqui a correr sem pagar. Está alguém lá em cima? Um casal mais velho subiu um pouco antes. Não havia elevador ou escadas para o topo. Em vez disso, existia uma passagem em espiral instalada originalmente para que os enormes instrumentos astronómicos do século XVII pudessem ser levados para cima. A história que os guias turísticos locais gostavam de contar era que Pedro, o Grande, a subira a cavalo e que a imperatriz o seguira num coche. Malone conseguia ouvir o eco de passos vindos do andar de cima. Abanou a cabeça ao pensar no que o esperava. Diz à Polícia que estamos lá em cima. Começou a correr.
A meio da subida passou por uma porta que dava para a Sala Grande. A entrada de vidro estava trancada e as luzes apagadas. As paredes exteriores da torre possuíam janelas duplas ornamentadas, mas tinham todas grades de ferro. Pôs-se de novo à escuta e continuou a ouvir passos de corrida vindos de cima. Avançou, a respiração tornando-se-lhe mais apressada e pesada. Quando passou por uma representação planetária medieval afixada na parede, abrandou o passo. Sabia que a saída para a plataforma do telhado ficava apenas a alguns metros de distância, ao virar da última curva. Deixou de escutar passos.
Continuou em frente e atravessou a arcada. Ao centro, erguia-se um observatório octogonal, não do tempo de Cristiano IV, mas de construção mais recente, com um terraço grande a toda a volta. À esquerda, uma vedação de ferro decorativa contornava o observatório e a única entrada existente encontrava-se fechada com uma corrente. Para a direita, ao longo da orla da torre, estendia-se um corrimão trabalhado. Para lá do corrimão cresciam os telhados vermelhos e os pináculos verdes da cidade. Contornou a plataforma e viu um homem idoso deitado no chão em decúbito ventral. Para lá do corpo, o homem da faca refugiava-se atrás de uma mulher idosa, segurava-a com um braço e mantinha a faca encostada ao pescoço dela. A mulher parecia querer gritar, mas o medo embargava-lhe a voz.
Não se mexa, aconselhou Malone em dinamarquês. Observou o seu opositor. Tinha o mesmo olhar assombrado e gotas de suor brilhavam-lhe no rosto com a luz do Sol. Tudo indicava que Malone devia manter-se afastado e o som de passos vindos do andar de baixo anunciava que a Polícia estaria ali dentro de alguns minutos. E que tal acalmar-se?, perguntou Malone, tentando comunicar em inglês. Viu que o ladrão o entendeu, mas a faca não se afastou do alvo. O olhar dele não parava quieto e ora mirava o céu, ora o espaço vazio atrás de si». In Steve Berry, O Legado dos Templários, 2006, Publicações dom Quixote, 2007, ISBN 978-972-203-808-9.

Cortesia PdomQuixote/JDACT