terça-feira, 2 de agosto de 2016

A Pérola das Arábias. Emma Wildes. «Demorei alguns anos para poder aceitar, mas estou muito honrado por sua hospitalidade. Possivelmente a mão de Alá interveio na escolha da data»

Cortesia de wikipedia e jdact

Londres. 1817
«É uma ideia fascinante, não? Jonas Maxim verteu a água cuidadosamente sobre o coador e observou como o torrão de açúcar se dissolvia. O esverdeado liquido de seu copo se turvou lentamente.O quarto de um dos clubes mais exclusivos de Londres ficou absolutamente silencioso depois de sua escandalosa proposta. Revelar nossa façanha sexual mais atrevida?, seu irmão Colin, que estava confortavelmente sentado em uma poltrona estofada com suas longas pernas estendidas respondeu finalmente com uma risada baixa. Somente você poderia ter uma ideia semelhante.Mesmo assim, conte comigo.Todos somos velhos amigos, assinalou Jonas de forma pratica, e já que nos reunimos aqui a cada mês para desfrutar de nossa amizade e de umas taças, penso que seria um entretenimento interessante. Gavin St. John, loiro e magro,arqueou as sobrancelhas. Também somos homens e suponho que gostamos de uma boa história que trate de um de nossos temas favoritos, o sexo, quero dizer, acredito que a ideia tem seus méritos. Levantando seu copo, Ross Benson, o visconde Winterton, disse secamente. Acredito que todos sabem que estou de acordo, já tenho uma história memorável quando chegar a minha vez. O duque de Bellingham parecia divertido, como era de se esperar. Seu irmão mais jovem, Christian, também sorriu. Sentado à mesa, o conde de Grayson segurava o copo languidamente entre os dedos e sorriu. Parece-me bem, de facto, se não se importam, eu gostaria de ser o primeiro, acredito que tenho uma história que interessará a todos. Jonas se reclinou em sua cadeira. Somos todo ouvidos.
O salão onde o receberam era grande, um fraco e exótico aroma de tabaco e especiarias flutuava no ar. Robert St. Claire inalou devagar e tentou parecer completamente tranquilo e relaxado, embora a situação o tenha deixado um pouco desconcertado. Não era o caso de não estar acostumado à formalidade e a opulência do palácio, simplesmente não estava certo do que se esperava dele neste encontro em particular. A política era complicada entre dois países tão diferentes, e sabia que não queria causar mais problemas. Era um convidado, e não um embaixador da Inglaterra. Milord Grayson. O homem lhe fez uma reverência, e ele imitou o educado gesto. Sinto o atraso, disse Abdul, o cônsul do sultão, por favor, sente-se. Desejava falar a respeito de algum tipo de tratado entre nossos países, ministro? Robert disse, indagando com cautela, e sentando-se outra vez. Temo que não seja um diplomata, e portanto não estou autorizado a falar em nome de meu governo sobre nenhum acordo. O outro homem sorriu. Era magro, com o cabelo escuro, e surpreendentemente não vestia o traje típico de seu país. Em vez disso, vestia-se de forma similar à sua. Vestir roupas europeias era, sem dúvida, uma deferência para com seu hóspede, para fazê-lo sentir-se menos estrangeiro e fomentar as boas relações. Abdul negou com a cabeça levemente. Usei essa desculpa para obter uma audiência particular com você, me perdoe, por favor. É amigo do filho de meu senhor, mas também é inglês, e por isso desejava vê-lo. Ainda desconcertado, Robert se perguntou por que o homem que tratava dos assuntos políticos do poderoso sultão queria vê-lo. Já vejo. Por que o subterfúgio, posso perguntar? Abdul falou lentamente, com seus olhos negros fixos nele. Você conheceu Ali em Cambridge, e vocês dois, tão diferentes mas intelectualmente compatíveis, tornaram-se grandes amigos, não é? São da mesma idade e ambos de sangue nobre. A família de Ali ocupa uma posição mais elevada, mas seu país é mais poderoso. Em resumo, milord, os dois são príncipes, por título e riqueza. O sultão o aprecia porque seu filho gosta de você. Os escuros olhos de Abdul o observaram de forma especulativa. Em resposta a suas observações, Robert disse: Ali tinha um pequeno problema com o críquete, e como não é alguém que aceite perder por causa da ignorância, ajudei-o um pouco treinando seus lançamentos, e suponho que apesar da cor de nossa pele, reconhecemos um ao outro quanto a nossa natureza competitiva, e assim cresceu a amizade entre nós. O ministro juntou as mãos em seu colo. E o convidou a vir aqui. Demorei alguns anos para poder aceitar, mas estou muito honrado por sua hospitalidade. Possivelmente a mão de Alá interveio na escolha da data. Robert arqueou a sobrancelha em uma interrogação silenciosa, agarrando sua taça. Achou o doce e quente café um pouco enjoativo, mas uma vez mais, estava em um lugar muito diferente das verdes colinas inglesas. Meu senhor deseja lhe oferecer um presente, disse Abdul com brutalidade, uma mulher para encher suas noites de prazer enquanto estiver connosco. Foi comprada recentemente e destinada ao seu harém, mas tomei a liberdade de sugerir que você sentiria uma grande atracção por uma pálida e loira mulher de seu país natal. Robert se esticou ligeiramente, suas botas se moveram sobre o tapete de vivas cores sob seus pés. Há uma mulher inglesa aqui? O outro homem assentiu, sua taça de café permanecia sem tocar na delicada mesa que havia entre eles. Não tivemos nada a ver com sua captura, entenda, há homens que fazem isso ao longo de toda esta costa, homens que tomam prisioneiros e os vendem, especialmente mulheres bonitas. Quando as trazem aqui, se forem traentes e puras, meu senhor, se o agradarem, compra-as. Abdul sorriu sucintamente. Pensa que é algo bárbaro, seu rosto o demonstra, mas não é muito diferente da maneira como sua sociedade vende suas jovens filhas em casamentos de conveniência pelo dote e a posição social. Um pouco diferente, alegou Robert em silêncio, mostrando em seu rosto uma expressão impessoal, mas possivelmente não tão diferente se alguém pensasse bem. E comentou. Não estou aqui para julgar seus costumes, ministro. Deseja que fale com Ali, para ver se pode pedir a seu pai que liberte a garota? De maneira nenhuma, a resposta foi enfaticamente cortante. Já falei com sua alteza, contando que a mulher diz ser da nobreza, e que sua família tem influência e dinheiro e que desejariam sua liberdade, mesmo se isso significasse que os navios de guerra ingleses atraquem em nossas costas. O cônsul inglês tem espiões aqui e cedo ou tarde descobrirá que está encerrada no palácio, é somente uma questão de tempo. Quem é ela? Diz que é a filha do duque de Rushton. Robert digeriu a informação com consternação. Bom Deus. A filha mais jovem, recordou. Era considerada a jovem mais bela da sociedade de Londres. Nunca foram apresentados já que ela era uma ingénua debutante e ele esteve em viagens por muito tempo, mas seu nome aparecia na secção de sociedade de vários periódicos que sua mãe enviava regularmente. Como demónios, perguntou-se, tinha caído nas mãos de criminosos errantes em busca de mulheres para vender ilicitamente no mercado do sexo nesta remota parte do mundo? Conheço seu pai, disse Robert, e ela pode estar certa, tem uma grande influencia em meu país, e também é muito rico, possivelmente deveria pedir um resgate por ela, seu pai pagaria bem para recuperar sua filha. Infelizmente, meu senhor não precisa de dinheiro, e não entende que uma mulher possa ter tanto valor para que um país empreenda uma guerra para libertá-la. Abdul acrescentou pacientemente. Não é nossa maneira de ver as coisas. As mulheres são propriedades, entende? Meu senhor não é cruel, e Ali basicamente é um bom homem, mas nenhum dos dois atenderá seu pedido de libertar uma simples mulher. Para eles, ela é insignificante. Ora, replicou Robert, quando a conversa tornou-se mais clara. Estudei seus costumes a fundo antes de vir. Eu sou um pouco diferente, minha mãe era de sua raça, o sultão descartou a ameaça de uma possível represália, mas eu não estou tão certo. Abdul titubeou brincando com a asa de sua taça. Sugeri a ela como o presente que deseja lhe oferecer, isso é algo que ele entende. A declaração de que você preferiria uma mulher de sua própria raça é algo que faz sentido para ele». In Emma Wildes, A Pérola das Arábias, Siren Publishing, Wikipedia, Luciana Veit, versão espanhola, ISBN 978-141-168-430-0.

Cortesia de SirenP/JDACT