terça-feira, 16 de novembro de 2010

Adolfo Casais Monteiro: A criação literária é dominada por dois géneros: a poesia e o ensaio. Poeticamente, fará a ponte entre o Modernismo da geração de 1915 e a poesia da segunda metade do século, que terá na sua «Obra» um raro interlocutor com a geração dos anos de 1930/40

(1908-1972)
Porto
Cortesia de prosimetron

Adolfo Casais Monteiro foi um poeta, crítico e novelista lusófono.
Na Universidade do Porto foi colega de Agostinho da Silva e Delfim Santos, tendo-se formado em 1933. Foi no Porto que começou a ser professor, até ao momento em que foi afastado da carreira por motivos políticos. Exilou-se em 1954 no Brasil, por motivos políticos e por lhe ser vedada a docência em Portugal.

Da esq. para a dir: José Régio, João Gaspar Simões, Albano Nogueira,
Fernando Lopes-Graça e Adolfo Casais Monteiro
Cortesia de mmpcmcascais
JDACT
Foi director da revista «Presença», depois da demissão de Branquinho da Fonseca, ainda que não tenha sido um dos seus fundadores. A revista viria ter o seu fim em 1940, tendo provavelmente contribuído para o seu encerramento as opções políticas de Casais Monteiro. Dele se afirma que, sendo um heterodoxo, tal como Eduardo Lourenço, é natural que viesse a exilar-se, já que a própria oposição ao regime se regia por normas que não se adequavam ao seu modo de ser.


Cortesia de purl

Leccionou Literatura Portuguesa em diversas universidades brasileiras até se fixar em 1962 na Universidade Estadual Paulista, Campus de Araraquara-SP. Escreveu por essa altura vários ensaios, ao mesmo tempo que escrevia, como crítico, para vários jornais brasileiros, tendo deixado contributos para o estudo de Fernando Pessoa e do grupo da «Presença».
Entre os seus trabalhos de tradução conta-se «A Germânia», de Tácito, em 1941. O seu único romance, de 1945, intitula-se «Adolescentes».

Cortesia de emule

A sua obra poética, iniciada em 1929 com «Confusão», foi influenciada pelo primeiro modernismo português, aproximando-se estilisticamente do esteticismo de André Gide. As suas críticas ao concretismo baseavam-se na ideia de que esta corrente estética promovia a impessoalidade, partindo da «mais pura das abstracções» na construção de uma «uma linguagem nova ao serviço de nada, uma pura linguagem, uma invenção de objectos - em resumo: um lindo brinquedo».

Cortesia de cometaseestrelas

Enquanto alguns autores o descrevem como independente do Surrealismo outros acentuam a influência que esta corrente estética teve no autor, como se pode verificar nos seus ensaios sobre autores como Jules Supervielle, Henri Michaux e Antonin Artaud, designando-o como «presença insustentável». Muita da sua obra poética dedica-se ao período histórico específico por ele vivido, como acontece no poema «Europa», de 1945.
 
Vem vento, varre
Vem vento, varre
Sonhos e mortos.
Vem vento, varre
Medos e culpas.
Quer seja dia,
Quer faça treva,
Varre sem pena,

Leva adiante
Paz e sossego,
Leva contigo
Nocturnas preces,
Presságios fúnebres,
Pávidos rostos
Só cobardia.

Que fique apenas
Erecto e duro
O tronco estreme
De raiz funda.
Leva a doçura,
Se for preciso:
Ao canto fundo
Basta o que basta.

Vem vento, varre!



Cortesia de Instituto Camões/